quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A vida é como um rio

"A vida é como um rio, diria o filósofo pré-socrático, Heráclito de Éfeso. Um rio que não pára, que está em movimento constante. E por isso mesmo não se pode banhar duas vezes nas mesmas águas de um mesmo rio, porque um minuto não é igual a outro minuto.
Tudo passa, tudo corre, tudo muda, tudo se transforma. E não há controle algum sobre o tempo.
Se o rio pudesse escolher as margens pelas quais passa, se pudesse parar para contemplar as margens mais bonitas, mais floridas, se pudesse admirar os campos enfeitados pelos rebanhos...mas não pode. Tem um curso inexorável a seguir".
                                                  (G. Chalita, Educação - A solução está no afeto, 2004, editora Gente)

Assim é a nossa vida!

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Kairós - tempo oportuno

Retorno à ativa depois de um interregno de um período de tempo - tempo aqui entendido mais como Kairós do que Chronos, referindo Eclesiastes 3:1 "Para tudo há um momento, há um tempo para cada coisa debaixo do céu".

Vejo a referência desse "momento" como  o "momento oportuno" (tempo: Kairós).

Hoje trago para reflexão um tema que Cristo se antecipando ao tempo tratou com  a sabedoria de Mestre dos Mestres da escola da existência - a mais insidiosa das doenças psíquicas, a ansiedade (Mateus, 6:25-34). Cristo discursava sobre temas que só seriam abordados pela ciência dezenove séculos depois, com o surgimento da psiquiatria e psicologia.

Cristo compreendia a mente humana e as dificuldades da existência com uma lucidez refinada. Preocupava-se com a qualidade de vida dos seus íntimos. Sabia que a ansiedade estanca o prazer de viver, fomenta a irritabilidade, estimula a angústia e gera um universo de doenças psicossomáticas.

Jesus era o mestre do diálogo. Discursava eloquentemente: "Não andeis ansiosos pela vossa vida" (Mateus, 6:25). Em seus discursos, Cristo já se referia a ansiedade natural, normal, presente em cada ser humano, que se manifesta espontaneamente quando estamos preocupados, quando planejamos, quando expressamos um desejo, etc,todavia, essa ansiedade eventual, normal, pode se tornar doentia, um "andar" ansioso.

Cristo afirmava que as preocupações exageradas com a sobrevivência, os pensamentos antecipatórios, o enfrentamento de problemas virtuais, a desvalorização do ser em relação ao ter, entre outros, cultivam a ansiedade doentia. Valorizamos mais o "ter" do que o "ser", ou seja, possuir bens mais do que ser tranquilo, alegre, coerente. Essa inversão de valores gera a ansiedade e seus frutos: insegurança, medo, apreensão, irritabilidade, insatisfação, angústia (tensão emocional associada a um aperto no tórax).
A insegurança é uma das principais manifestações da ansiedade.
Cristo tinha razão: há uma ansiedade inerente ao ser humano, ligada à construção de pensamentos, influenciada pela carga genética, por fatores psíquicos e sociais. Somos uma espécie que possui o maior de todos os espetáculos, o da construção de pensamentos. No entanto, muitas vezes usamos o pensamento contra nós mesmos, para gerar uma vida ansiosa. Os problemas ainda não ocorreram, mas já estamos angustiados por eles.
"Não andeis ansiosos pelo dia de amanhã (...) Basta a cada dia o seu próprio mal" (Mateus, cap.6), Cristo queria vacinar seus discípulos contra o estresse produzido por pensamentos antecipatórios. Não abolia as metas, as prioridades, o planejamento do trabalho, pois ele mesmo tinha metas e prioridades bem estabelecidas, mas queria que os discípulos não gravitassem em torno de problemas imaginários.

Muitos de nós vivemos o paradoxo da liberdade utópica. Por fora, somos livres porque vivemos em sociedades democráticas, mas por dentro somos prisioneiros, escravos das ideias dramáticas e de conteúdo negativo que antecipam o futuro.

O ensinamento de Cristo relativo à ansiedade era sofisticado, pois para praticá-lo, seria necessário conhecer uma complexa arte intelectual que todo ser humano tem dificuldade de aprender: a arte de gerenciar os pensamentos.
Governamos o mundo exterior, mas temos enorme dificuldade em gerenciar nosso mundo interior, o dos pensamentos e das emoções.
Somos subjugados por necessidades que nunca foram  prioritárias, pelas paranoias do mundo moderno: o consumismo, a estética, a segurança. Assim, a vida humana, que deveria ser um espetáculo de prazer, torna-se um espetáculo de terror, de medo, de ansiedade.

As ideias representam um conjunto organizado de cadeias de pensamentos. O fluxo das ideias que transitam a cada momento no palco de nossas inteligências não pode ser contido. Todos somos viajantes no mundo das ideias: viajamos para o passado, reconstruindo experiências já vividas; viajamos para o futuro, imaginando situações ainda inexistentes; viajamos também para os problemas existenciais.
Pensar não é uma opção voluntária do ser humano; é o seu destino inevitável. Não podemos interromper a produção de pensamentos; só podemos gerenciá-la.

Cristo tanto prevenia contra a ansiedade como discursava sobre o prazer de viver.
Quando Cristo disse: "Olhai os lírios dos campos" (Mateus, 6:28), queria que as pessoas fossem alegres, inteligentes, mas simples. Porém, assim como seus discípulos, nós não sabemos contemplar os lírios dos campos, ou seja, não sabemos extrair o prazer dos pequenos momentos da vida. A ansiedade estanca esse prazer. 

Passamos, grande parte de nossa existência, à volta com nossos pensamentos geradores de ansiedade que nos impedem de sentir alegria de viver. Deixamos nossos pensamentos, diariamente, boicotarem nosso "tempo oportuno" - Kairós - privando-nos da felicidade. 
Cristo disse: "Felizes os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (Lucas, 11:28).

Referências Bibliográficas
Augusto Cury, "O Mestre dos Mestres", 2006, ed. Sextante
Bíblia Sagrada, ed. Vozes