terça-feira, 31 de maio de 2016

Carta: "A minha amiga Marisa"

Mudei para esta escola
Por suspensão de lugar
e só por esse motivo
Eu viria aqui parar

E como tudo na vida
Tem suas compensações
Aqui conheci Marisa
De tão boas relações

Poucos dias me bastaram
P'ra admirar seus pensamentos
Bem depressa percebi
Que é rica de sentimentos

Conhecê-la foi p'ra mim
Um privilégio bem grande
Eu não irei esquecê-la
Ande lá por onde eu ande

Foi escasso este tempinho
Que com você convivi
Que é boa profissional
Isso eu bem o percebi

De setembro até janeiro
Com todas colaborou
Agora deixa saudades
Porque a todos encantou

De uma ternura sem par
Sempre meiguinha e prestável
Compreensiva, humana
Tudo em você é louvável

Bem gostaríamos nós
De mantê-la o ano inteiro
Mas isso não é possível
Porque as leis estão primeiro

Vai partir p'ra outra escola
Seu testemunho aqui fica
Aqui com sua passagem
A escola fica mais rica

Do fundo do coração
Lhe desejo mil venturas
Na sua vida privada
E nas mudanças futuras

Aceite um abraço amigo
E um beijo de gratidão
E leve-me consigo
Nesse grande coração

Canidelo, 24-01-1994
Portugal

Hoje, recorri ao "baú" de recordações que consegui "transladar" de um país para o outro (mais uma vez) e, entre as fotografias encontrei, com grande alegria, esta carta desta amiga que a vida, num dado momento, fez com que nossos caminhos se cruzassem. Muitos anos se passaram. Mas o Amor não conhece o Tempo. Supera-o. Transcende-o. Suas palavras são a "prova viva" disso, pois tiveram o poder de encher meu coração de júbilo. 
Não sei por onde andará esta querida amiga poetisa. Esteja onde estiver, a energia do Amor chegará através do meu pensamento até você.
Bem-haja!
Amiga querida, muito obrigada pelo teu grande carinho por mim.
Deus te abençoe!

domingo, 22 de maio de 2016

O sentimento de amor se intercomunica

Finda mais um fim de semana. De uns tempinhos para cá, os tenho vivido de uma forma nova para mim. Passo-os bordando durante a tarde de sábado e de domingo numa doceria onde exponho meus trabalhos manuais. Ali, retomei aos tempos em que vivi trabalhando no comércio. Difere pelo fato de que esta casa comercial não é minha. Lá estou pela amizade que tenho com os proprietários sendo cliente da casa. Tenho sido muito bem acolhida. As pessoas olham, sorriem, algumas se aproximam para ver e, assim, se estabelecem trocas energéticas impregnadas de carinho. Tenho conhecido pessoas que, de outra forma, jamais viria a contactar com elas. As vendas?! Fico feliz sim por oferecer o meu amor através do meu trabalho feito com tanto amor. Mas se nada puderem levar, já valeu pela atenção, troca de ideias e, principalmente o carinho da amizade.
A amizade surge de uma combinação empática que movimenta as energias. Leva um ao encontro do outro. Uma magia envolve as pessoas. 

Hoje, um casal de jovens, sentados ao lado da minha mesa, eu envolvida no meu bordado, eles a conversarem enamorados. Até que, a um dado momento levantei para descontrair as minhas costas e observei que a jovem olhava carinhosamente para a peça que eu estava fazendo. De imediato houve uma troca de sorrisos. Ela elogiou os trabalhos e, assim começamos a conversar. 
Depois de algum tempo de diálogo, e agora já a três, pois o jovem a essa altura já fazia parte da conversa, a linda jovem me disse:

                   - "Seus filhos devem ter muito orgulho da senhora".

Essa frase me tocou na alma. Tocou profundamente. Como poderia uma jovem, apenas por umas palavras, ideias trocadas levá-la a formar e emitir um sentimento tangido pelo verdadeiro amor?!
Muito me sensibilizou. Fez ressoar sentimentos que, ultimamente, povoam minha mente. 
Em seguida, tive a feliz visita de minha amiga Kris, que também fora "amor à primeira vista" e sorrisos. Tinha vindo para, mais uma vez, trocarmos ideias e darmos o que temos de mais valioso - nosso Tempo e Amor. 
Quero crer que Deus, na Sua Infinita misericórdia e amor, me quer dizer: 

                  -"Se os teus não querem te ouvir, há os que se deleitam com teu amor puro e abundante". 

Reflito e corroboro nas palavras de Masaharu Taniguchi:

"Emito vibrações de amor para a humanidade toda, e a humanidade me conhece e me ama. As vibrações de amor que irradio para o mundo inteiro não são de amor egoístico, mas do grandioso Amor Divino. O mundo capta as vibrações do grandioso Amor que irradio e me responde. Sendo o amor um sentimento que dá vida, todas as coisas me fazem viver".

Cada olhar carinhoso, atenção dispensada, palavra trocada, gesto partilhado, abraço sincero, adeus dado à saída, hoje, até mesmo pela gentileza de um café oferecido pelo namorado da Kris, a sinceridade e incondicionalidade implícita no puro prazer de se viver AQUI e AGORA a AMIZADE, me faz continuar a acreditar que tudo é possível, aliás, como sempre acreditei.

Faço, aqui, alusão ao lirismo destas palavras de Albert Einstein: 

"Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um do outro há de se lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente,
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos pra sempre.

Há duas formas para viver sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre"


Masaharu Taniguchi, Caminho que transcende a vida e a morte, Vol. S, 2012, Seicho-No-Ie





sexta-feira, 20 de maio de 2016

Males pequeninos

Na transata sexta-feira fui convidada a fazer o Evangelho (preleção dito na Seicho-No-Ie ou palestra para outros) o que consta da leitura de um texto da doutrina espírita, previamente escolhido pela dona do Centro Espírita, com o objetivo de estudo da doutrina espírita e, consequentemente a aprendizagem de novos conhecimentos na intenção de ajudar cada pessoa a trabalhar em prol da sua reforma íntima e a seguir o Mandamento Maior de Jesus: 
"Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e, de todo o teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo" (Lucas 10:27).

De pronto, aceitei - aliás como sempre faço - o convite. Logo começou a fervilhar a indagação de qual seria o tema. Ao inquirir obtive como resposta apenas o nome do livro "Coragem". Justamente esse não o tenho. A movimentação passou por ligar para a dona do Centro Espírita para saber qual a lição desse livro seria apresentada. Assim que soube que o nome da lição era "Males pequeninos" recorremos a Internet para pesquisa online. Pequenino texto se me apresentou aos olhos.

"Guardemos cuidado para com a importância dos males aparentemente pequeninos.
Não é o aguaceiro que arrasa a árvore benemérita.
É a praga quase imperceptível que se lhe oculta no cerne.
Não é a selvageria da mata que dificulta mais intensamente o avanço do pioneiro.
É a pedra no calçado ou o calo no pé.
Não é a cerração que desorienta o viajor, antes as veredas que se bifurcam.
É a falta de bússola.
Não é a mordedura do réptil que extermina a existência de um homem.
É a diminuta dose de veneno que ele segrega.
Assim, na vida comum.
Na maioria das circunstâncias não são as grandes provações que aniquilam a criatura e sim os males supostamente pequeninos, dos quais, muita vez, ela própria escarnece, a se expressarem por ódio, angústia, medo e cólera, que se lhe instalam, sorrateiramente, por dentro do coração".

Depois de ler essas sábias palavras e, consequentemente, refletir sobre o sentido dessa mensagem, pedi orientação ao meu Anjo da Guarda e, seguindo a intuição fui ao encontro de um livro para crianças do Tio Gaspa, ou seja, Luiz Gasparetto. 
Uma linda história infantil que fala dos "males pequeninos", cujo título é "se ligue em você" - mantenha acesa a sua LUZINHA no coração. É uma das centenas de histórias que contava e trabalhava com meus alunos. Pois bem, pensei: "é esta a que devo apresentar hoje em complementaridade a do livro "Coragem".
Assim o fiz. O tempo transcorreu ligeirinho... Não importa se passou um pouquinho da hora, pedi desculpas ao plano espiritual pelo ligeiro atraso para dar continuidade aos trabalhos de "passe" no andar superior do edifício. O que importa é que segui minha intuição, doei o que temos de mais valioso - o Tempo - com muito Amor a todos que ali se encontravam. Nada foi falado. Mas nunca faço nada para ser falado "reconhecido" faço com muito prazer na intenção de seguir o que nos disse o Mestre dos Mestres " Amai ao teu próximo como a ti mesmo".

Talvez, tenha saído dos padrões habituais daquela Casa de Luz, mas pude sentir o Amor Iluminado. 

Aludi que era dia 13 de Maio, dia da Aparição de Nossa Senhora aos três pastorinhos na Cova de Iria, em Fátima, deixando-nos a mensagem de "salvar as almas" no primeiro e segundo segredo e no terceiro tão bem guardado por Lúcia (uma das crianças que viram Nossa Senhora) que é a penitência. 
Penitência = vigilância.  Estar reconciliado com Deus mantêm acesa a nossa Luzinha.
Seguindo, sempre, a mensagem da Mãe Santíssima: "fazer crescer, cada vez mais, a fé, a esperança e a caridade (Virtudes teologais).

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Como enfrentar a vida na fase "filhos criados"?

Há de se considerar que nos Mandamentos da lei de Deus, que deve ser observado por todos e, principalmente, pelos filhos adultos quando seus pais já estão envelhecidos e sem forças para trabalhar que é preciso: “Honra teu pai e tua mãe, conforme te ordenou o Senhor teu Deus, para que se prolonguem os teus dias na terra em que o Senhor teu Deus te dá” ( Ex 20,12).


De uns tempos a esta parte, tenho vindo a viver uma experiência que, dia após dia tento me adaptar a ela, impondo a mim mesma um esforço desumano para perceber o sentido desta sequência que se desencadeou na minha vida e que, como tenho dado conta, ocorre também na vida de muitas mães, cada qual com suas histórias pessoais e familiares. Como tudo nesta vida, sabemos que essa fase existe mas só conseguimos verdadeiramente "dar conta" da sua grandeza quando estamos no centro da situação sem saber que rumo tomar. 
Sabemos que desde a constatação da gravidez prenunciada pelo teste e pelas mudanças no nosso corpo, mente e espírito nunca nada mais se conseguirá pensar na individualidade inerente a "pessoa" da mãe. A partir de então, a vida passa a ter a centralidade fixada no filho que carrega no seu ventre. Tudo muda. Seu corpo se altera totalmente, sua rotina, seus desejos, seu sono, seu pensar, seu agir e seu "sonhar".
Sim, passa a viver um "sonho". Esse estado idílico a leva a tudo aceitar como parte desse sonho que passa a viver a dois - mãe e filho. Chegada a hora de "dar a luz", sobrevive a dores inimagináveis, com o pensamento apenas no bem e na saúde de seu filho. Ao olhar seu bebê todas as dores e sofrimentos são irrelevantes. O Amor ao seu filho é imensuravelmente superior à sua própria vida. E, a caminhada segue. Sem dormir, para velar o sono de seu filho. Sem descansar para cuidar de seu filho. Seu mundo gira em torno de uma parte (a principal) de si mesma - seu filho. 
Assim, seguem, sucessivamente cada fase da vida de seu filho - bebê, primeira infância, infância, pré- adolescência, adolescência e chega a vida adulta. Cada fase parecia compor-se de uma "eternidade" pela riqueza de vivências que de tão intensas deixavam imperceptível o correr do tempo. 
TEMPO... Ah!... esse tempo que tanto me deu (e dá) voltas à cabeça!
Pois bem, ele infalivelmente passou... e com ele se foram as minhas três riquezas.
Sim, porque se aos dezenove anos estava a ser mãe de um Anjo que Deus me concedera, aos vinte e três Deus me concedia outro Anjo e aos vinte e cinco recebia a mais bela Flor dos jardins de Deus. Três vezes passara todas as experiências da gestação, parto natural, amamentação e cuidados que só uma mãe consegue saber. Vida vivida de total e irrestrita entrega. Se possível fosse, estaria o resto de minha existência e jamais conseguiria sequer dar a "primeira nota" dessa longa e interminável melodia do que vivi como Mãe.
Hoje, "filhos criados" ... o que me restou?! Indubitavelmente, a certeza que fiz o meu melhor. 
Um número imenso de histórias seriam de registro tanto pelo significado como também pelas consequências que tiveram. Mas, isso será para outra oportunidade...
Hoje ficaram: a solidão dos dias, o vazio das horas, a ansiedade pelo que não chega, a marca forte das lembranças, a falta de perspectivas que dias melhores virão, a incompreensão pela não falta que lhes faço, a ausência de partilhas, o enquadramento de "visita" ao que na verdade é sentido como meu (eu mesma, ora visto que durante todos esses anos, "passei a ser" nos meus filhos), a falta de sentir-me cuidada nos pequeninos gestos diários de atenção que tanto alegra a alma, o sentir-me preterida por tudo e todos na nova vida dos filhos, o ser deixada para trás por alegado discurso "vou ser feliz", o virar de costas à própria mãe, em pleno Dia de Natal, para seguir um companheiro sem sequer pensar na dor dilacerada que deixara no peito de sua mãe, o ter que suportar o sofrimento de ver uma filha optar por dar a luz num país distante, sem sequer pensar nas dores de sua mãe, o almejar participar com orgulho de datas marcantes na vida de seus filhos como formaturas, casamentos, nascimento de seus netos... elencaria um rol de coisas... 
Sei, contudo, que existe Amor. Apenas...
Nada compreendo, ainda!
Um dia...quem sabe?! Só Deus!

terça-feira, 10 de maio de 2016

O reducionismo atribuido à função do educador

Sempre me consternou o fato de perceber o discurso que envolve a "nobre missão" de educar como se se tratasse de uma mera transmissão de informações, conteúdos ou, ainda, aquela conhecida expressão "tomar conta" de uma turma. Embora esse conceito equivocado não me tomasse tempo pois de tão absurdo para mim simplesmente o ignorava, ou seja, fazia com que me passasse um pouco ao largo. Indubitavelmente reconheço que uma parte (significativa) dos docentes poderão se encaixar nesse conceito até porque tomaram para si esse ideia. Durante minha longa experiência no ensino pude ver um pouco de tudo. Perpassei por várias fases que vão desde os professores tradicionais (há mais de três décadas atrás) que se achavam os detentores do saber, "empoleirados" em cima de um estrado para se fazerem ainda mais "altos" e distantes dos seus pupilos até os "laisser faire" passantes de conteúdos mesmo que "em meio ao caos" disciplinar em sala de aula. 
Felizmente, posso afirmar que muitos foram aqueles que se fizeram notar pela postura pedagógica baseada em princípios e valores axiológicos firmados por uma estrutura firme e convicta de bons resultados.
Os estudos comprovam a extraordinária complexidade que envolve o processo ensino-aprendizagem, na interação da pessoa do "aluno" e da pessoa do "educador".
A necessidade de melhor compreender como funciona a pessoa, na sua forma de abordar as aprendizagens, e mais amplamente, estabelecer a sua relação com o meio, leva G. Lerbet a conceber uma teoria do sistema pessoal de pilotagem na aprendizagem. A partir do momento em que se considere que cada aluno elabora o seu saber, um saber de dentro, lhe atribui um sentido, que papel desempenha o docente que, de fora, propõe informações e saberes? Por outro lado, em que condições, se produz a interação entre a escola de dentro e a escola de fora, que assegura o desenvolvimento cognitivo da pessoa do aluno?
O autor utilizando a abordagem sistêmica, explica que o sistema-pessoa gera os fluxos de informações e conhecimentos provenientes do meio no seu 'meio pessoal' e autoregula-se, para se autogovernar. O docente deve aceitar e favorecer o papel de piloto que o aluno assume na sua aprendizagem.
Verificamos a importância da opção do educador se dedicar com o fim de emancipar a criança 'de tornar possível o surgimento de um outro', proporcionando-lhe os meios de desenvolver o seu potencial. A verdadeira liberdade de aprender não reside aqui numa escolha pessoal que conviria a outrem, em toda a exterioridade; ela está na resposta a um apelo.

Saber quais são as etapas cognitivas e afetivas do aluno, para lhe prestar uma ajuda personalizada, tal é a preocupação daqueles que procuram ir para além da didática diferenciada. Não se trata de um simples apoio técnico, que se reduziria a verificar como adaptar uma mensagem cognitiva às características do receptor, trata-se sim de agarrar a pessoa na sua origem para caminhar com ela.
A. Cosmopoulos fala da pedagogia da pessoa, fundada sobre a dinâmica das relações autenticamente humanas, ao mesmo tempo que educativas. O diálogo pedagógico é movimento em direção ao outro, para o ajudar a empreender por ele mesmo a sua própria formação. Isso supõe, segundo o autor, que o docente adquira a maturidade psicológica, moral, cultural e ideológica de uma personalidade pronta para o diálogo.

Ficando por agora apenas nestas poucas palavras - uma breve alusão - sobre a importância do papel do educador no processo ensino-aprendizagem podemos perceber o quão aflitivo é o conceito "reducionista" dado por grande parte da sociedade.


Nota:
Reducionismo, em filosofia, é o nome dado a teorias correlatas que afirmam, à grosso modo, que objetos, fenômenos, teorias e significados complexos podem ser sempre reduzidos, ou seja, expressos em unidades diferentes a fim de explicá-los em suas partes constituintes mais simples.


Marcel Postic, A Relação Pedagógica, 2007, Padrões Culturais Editora
https://pt.wikipedia.org/wiki/Reducionismo

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O que leva a pessoa a fazer a caridade?

Hoje, mais uma vez, depois de participar da aula de estudo do evangelho, uma reflexão (entre outras) predominou nos meus pensamentos: a prática da caridade. Ouve-se sempre, principalmente na doutrina espírita: "sem caridade, não há salvação". Daí, surgiram várias indagações concernentes aos motivos que levam cada pessoa à prática da caridade. Assim pensando, movida pelas minhas próprias ilações me surpreendi ao abrir um livro (que estou lendo, em simultâneo com outros) que refere:

"Muitos realizam a atividade voluntária (de caridade) por obrigação, especialmente em nosso movimento espírita. A pessoa sente-se obrigada a fazer o trabalho do bem porque, senão não vai obter a salvação, vai ficar obsediada, porque senão vai para o umbral ou para as trevas. Quem acredita que tem a obrigação de fazer a caridade para ter a salvação sempre tem um 'senão', que a obriga a realizar o trabalho voluntário.
Esse movimento gera uma desconexão com o ser. A pessoa não se plenifica com o bem que realiza, porque o realiza por obrigação para evitar punições. Ela tenta realizar uma barganha com Deus, tentando se livrar de sanções, que existem apenas em sua mente, sendo boazinha e fazendo o bem ao próximo, contudo o bem que ela realiza não lhe faz bem, pois é fruto de uma auto-obrigação.
Isso é completamente diferente da pessoa que faz o trabalho voluntário por conscientização. A consciência de ser útil ao próximo começa na consciência de ser útil a si mesmo, buscando-se os ideais de espiritualidade e religiosidade, aspecto que nos religa a Deus por amor e não por temor.
Quem age assim faz o trabalho no bem pelo prazer de ser útil. Se existem recompensas espirituais pelo trabalho que se realiza, a pessoa sabe que são apenas consequências. Ela não pensa nas recompensas, nem em possíveis sanções, caso não faça o trabalho.
Quando o indivíduo está consciente, o trabalho voluntário no bem está em harmonia plena com o ser. Ele realiza as atividades de benemerência porque sabe e sente que é o melhor para a sua vida. A sua consciência lhe diz isso. O trabalho não lhe serve para se livrar de obsessores, nem para ir para a colônia 'Nosso Lar' ou outra equivalente. O trabalho no bem, conforme estudamos na parábola dos dois filhos, serve para que o indivíduo volte à dignidade de onde se afastou, transmutando o conflito necessário causado pela indiferença, pelo egoísmo e pelo egocentrismo do passado".

Essa última frase, por mim sublinhada, vem de encontro ao que sabemos ser a resposta para a pergunta formulada no título deste texto: O que leva a pessoa a fazer a caridade?

Ainda assim recorri, à título complementar, ao significado da palavra no Wikipédia: caridade (latim caritate: amor ao próximo, benevolência, compaixão.

A definição à luz do catolicismo classifica "a caridade como a virtude teologal pela qual amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos por amor de Deus.  Jesus faz dela o mandamento novo, a plenitude da lei. A caridade é 'o vínculo da perfeição' (Col 3,14) e o fundamento das outras virtudes, que ela anima, inspira e ordena: sem ela 'não sou nada' e 'nada me aproveita' (Cor 13,1-3)".

Segue a explicação no Wikipédia:

"O diferencial proposto pelo Espiritismo é conceder a caridade como um dever natural decorrente da própria natureza e da ordem das coisas ao invés de mais um ensino moral. Entendendo o espírito que já passou e passará pelas mais diversas situações em diferentes encarnações no caminho da evolução, qualquer prejuízo que gere a outrem será um prejuízo causado contra si, de forma contrária, qualquer auxílio prestado a outrem será também um auxílio prestado a si. Todos esses exemplos mostram que a caridade forma um ciclo virtuoso de progresso geral e traz para o campo científico-filosófico o que era apenas matéria religiosa".

Estaremos nós preparados para a prática do verdadeiro "sentido" da caridade?!Ou continuaremos em busca de "respostas" para as nossas aflições, sofrimentos, decepções e conflitos existenciais recorrendo à prática continuada ou esporádica da caridade pelo temor dos "senões" e não pelo AMOR à Deus, a nós mesmos e ao próximo?!...


Alírio de Cerqueira Filho, Saúde Existencial o despertar para a essência da vida, 2010, ebm editora
https://pt.wikipedia.org/wiki/Caridade

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Aprender a "dar colo" a si próprio

Nos últimos tempos, uma grande reviravolta se instaurou no correr dos dias que, inevitavelmente, passam sem esperar que eu possa concatenar os pensamentos, expurgando os indevidos, aqueles que povoam pela manhã minha mente e, infalivelmente à noite lá encontram novamente abrigo. Tenho me esforçado imensamente para entender o que esses pesares, essa dor e sofrimento veio me ensinar. Como sempre disse, me considero uma aprendente da vida. Nada sei. Com espírito aberto aos sinais, observo que, nesta fase, tudo que mais amo se afastou para dar "alguma" aprendizagem ao meu espírito. 

"Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta coisa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pode ser, e é tudo".
                                                
"O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
a dor que deveras sente". 

Aqui, me revejo na poesia de Fernando Pessoa. Tudo que sinto, neste momento, perambula por entre esse intrincado jogo das palavras que expressam sentimentos que de tão profundos chegam a se confundir com a própria essência. 

Minha "amiga" Alexandra - que há anos procuro me inteirar das suas experiências com Jesus - hoje me presenteou com estas palavras "uma das coisas que vimos fazer à Terra, paralelamente a 'sermos quem somos', é 'dar-nos colo', isto é, completarmo-nos a nível energético. Não precisar ou não depender do colo de ninguém. E este conceito de que as pessoas têm que se dar colo, isto é, têm que se dar amor, proteção e aceitação de si próprios, é uma das coisas mais difíceis de alcançar".

Tenho atualmente a plena convicção que deixei de "dar colo" a mim mesma. Procuramos o colo das pessoas que mais amamos e o que sucede? Decepção, tristeza, sofrimento, dor e profundas mágoas geradas pela incompreensão do que acaba nos acontecendo...e tudo se vira às avessas...
Passamos a vida a projetar tudo fora de nós mesmos, no Outro.

Jesus responde:

- "O colo que vocês conhecem é o colo do Céu. É o colo infinito e incondicional. Mesmo que a vossa mãe dê muito colo, nunca terão a sensação de absoluto. E essa sensação de absoluto não existe aí em baixo porque a vida pede Conexão, a vida pede que vocês se liguem cá acima, ao Céu. E realmente ligar-se ao Céu é a forma mais forte de aprender a dar colo a si próprio. Abre o teu canal, sobe, e vem buscar colo ao Céu. Vem buscar o mesmo colo que tinhas entre vidas. É por isso que as pessoas que meditam são tão tranquilas, são tão calmas. Porque esse vazio emocional do amor, aceitação e proteção, quando vocês vêm cá acima em Meditação começa a ser colmatado".
Ouvindo as palavras de Jesus consigo perceber o quão necessário se faz a ligação na verticalidade com o Pai para deixarmos de "esperar" do Outro aquilo que ele não está preparado nem desperto para dar - o colo. Essa espera infrutífera pelo "colo" que o Outro não nos dá gera, como diz Pessoa: 

 "Há doenças piores que as doenças"


Fernando Pessoa, Antologia poética, Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses
Projeto Alexandra Solnado

domingo, 1 de maio de 2016

Viver a nossa Lenda Pessoal, um dia de cada vez

"A glória do mundo é transitória,
e não é ela que nos dá a dimensão da nossa vida
- mas a escolha que fazemos de seguir
a nossa Lenda Pessoal,
acreditar nas nossas utopias
e lutar pelos nossos sonhos.
Somos todos protagonistas das nossas vidas,
e muitas vezes são os heróis anônimos
que deixam as marcas mais profundas" (Paulo Coelho).

A cada dia que passa, somos tocados por vivências advindas da interação com as pessoas que encontramos na nossa caminhada.
Seguindo a frase de que "nada acontece por acaso" - que, intuitivamente, me faz sentido - num dado momento duas almas se "tocam" por terem algumas afinidades e, dali surge a empatia que estabelece momentos de partilha profícua. Chamo a isso de "encontros de cruzamento", possivelmente depois desse encontro seguimos cada qual seu caminho. Todavia, "por algum motivo" partilhamos o que temos de melhor e mais precioso - nosso TEMPO - com aquela pessoa. Porquê essa e não aquela pessoa?! Qual a razão de termos encontrado essa pessoa?! São perguntas que não sei as respostas. Apenas sinto que esses encontros me faz sentir viva. Protagonista da minha vida. Crente na minha Lenda Pessoal.

Morin considera que a humanidade está vivendo um momento crítico a que chama de agonia planetária e adverte-nos para a necessária tomada de consciência de que a ética está associada à solidariedade, única arma que dispomos para que a humanidade possa efetivamente tornar-se humanidade.

Numa nova experiência em minha vida, nesta fase que ainda estou tentando me adaptar, com o sentimento de "missão cumprida" como "missionária da educação", me dedico aos trabalhos manuais bem como a ler e escrever. Por necessidade de repassar meus trabalhos que faço com amor anuí ao convite de estar aos fins de semana na doceria que frequento como local de estudo e manualidades. Fui despertada de uma memória um tempo adormecida na área das vendas. Sou neta de uma mulher vanguardista da sua época, empresária atuante em setores diferenciados de vendas, nascida e criada no comércio, nada é de estranhar que me sinta "à vontade" na relação que estabeleço com as pessoas.
Na oportunidade de estabelecer uma "intimidade no amor e na amizade".

Ainda segundo Morin, "a agonia planetária não é só a soma de conflitos tradicionais de todos contra todos, mais as crises de diversas espécies, mais o surgimento de problemas novos sem solução, é um todo que se nutre desses ingredientes conflituais, de crise e de problemas, englobando-os, ultrapassando-os e, por sua vez, alimentando-os (...) Se a agonia canalizasse para essa tomada de consciência por parte dos indivíduos, das sociedades e do planeta, promovendo-se a transformação e a reconstrução a partir das ruínas, a crise terá sido válida e infinitamente positiva e educativa para os seres humanos".

O "despertar a consciência", aludido por Morin, me faz sentir gratificada por, de alguma forma, ter podido tocar o Outro pela magia do amor. 
Bem-hajam a todos que, hoje, nos permitimos ser "tocados em nossas almas". Podemos vislumbrar a cada "toque" como uma fresta de abertura para estarmos mais próximos do despertar de nossas consciências.

Assim Jesus disse:
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Marcos 12:31).

Izabel C. Petraglia, Edgar Morin, 2005, Editora Vozes
Paulo Coelho, Vida, 2004, arteplural edições