A) Necessidade da Caridade segundo Paulo
Toda moral ensinada por Jesus, se resume em duas simples palavras: Caridade e Humildade, isto é, nas duas maiores virtudes em que devemos concentrar todas as nossas forças em desenvolvê-las, se pretendemos erradicar de nosso espírito o egoísmo que até hoje nos mantêm presos às teias da ignorância.
O Mestre Maior de todos nós não se limitou apenas a recomendar a caridade, põe-na como condição absoluta para a conquista da felicidade futura, assegurando-nos que as ações empreendidas pelos caridosos com certeza lhes assegurarão uma melhor posição no futuro quando a justiça divina nos chamar para a prestação de contas, como nos ensinou também em outra oportunidade "a cada um segundo as suas obras".
A Caridade Segundo Paulo
"Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver caridade, sou como o metal que soa, ou como o sino que tine. E se eu tiver o dom da profecia, e conhecer todos os mistérios, e quanto se pode saber; e se tiver toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas, e não tiver caridade, não sou nada. E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se, todavia, não tiver caridade, nada disto me aproveita. A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece, não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre. A caridade nunca, jamais há de acabar, ou deixem de ter lugar as profecias, ou cessem as línguas, ou seja abolida a ciência. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes: porém a maior delas é a caridade". (Paulo, I Coríntios, 13:1-8 e 13)
Segundo Paulo, quais as características da caridade?
Paulo compreendeu tão profundamente esta verdade, que coloca a caridade acima da fé, porque a caridade está ao alcance de todos, do ignorante e do sábio, do rico e do pobre; e, ainda, porque independe de toda a crença particular. E define a verdadeira caridade, mostrando-a não somente na beneficência, mas no conjunto de todas as qualidades do coração, na bondade e na benevolência para com o próximo.
"Fora da caridade não há salvação", essa máxima de Paulo é reforçada em 1860 em Paris, numa comunicação, dizendo: "Pois nela estão contidos os destinos dos homens sobre a terra e no céu, porque aqueles que a tiverem praticado encontrarão graça diante do Senhor".
Encerrando a sua mensagem, traz a exortação:
"Meus amigos, agradecei a Deus, que vos permite gozar a luz do Espiritismo. Não porque somente os que a possuem possam salvar-se, mas porque, ajudando-vos a melhor compreender os ensinamentos do Cristo, ela vos torna melhores cristãos. Fazei, pois, que, ao vos vendo, se possa dizer que o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão são uma e a mesma coisa, porque todos os que praticam a caridade são discípulos de Jesus, qualquer que seja o culto a que pertençam".
B) Parábola do Bom Samaritano
"E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês? E respondendo ele, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E, disse-lhe: Respondeste bem; faze isto e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo? E, respondendo Jesus, disse: 'Descia um homem de Jerusalém para Jericó, e caiu nas mãos dos salteadores, os quais o despojaram, e espancando-o, se retiraram, deixando-o meio morto. E, ocasionalmente descia pelo mesmo caminho certo sacerdote; e, vendo-o, passou ao largo. E de igual modo também um levita, chegando àquele lugar; e, vendo-o, passou de largo. Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, moveu-se de íntima compaixão. E, aproximando-se, atou-lhe as feridas, deitando-lhes azeite e vinho; e pondo sobre sua cavalgadura, levou-o para uma estalagem e cuidou dele. Partindo no outro dia, tirou dois dinheiros, deu-os ao hospedeiro, e disse-lhe: Cuida dele; e tudo o que de mais gastares eu to pagarei quando voltar'.
"Qual, pois, destes três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: o que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vai, e faze da mesma maneira". (Lucas, 10:25-37)
Na parábola do Bom Samaritano, considerado herético (herege= ateu; ímpio; incrédulo), mas que naquele momento pratica o amor ao próximo, Jesus coloca-o acima do ortodoxo (aquele que está em conformidade com os princípios tradicionais de qualquer doutrina) que falta com a caridade. Não considera, portanto, a caridade apenas como uma das condições para a salvação, mas designa como condição única. Desde que coloca a caridade em primeiro lugar, é que ela implicitamente abrange todas as outras: a humildade, a brandura, a benevolência, a indulgência, a justiça, etc., e também porque significa a negação absoluta do orgulho e do egoísmo naquele que a pratica.
Procuramos entender o que significam vários personagens citados por Jesus na "Parábola do Bom Samaritano". Cairbar Schutel, diz ser o viajante ferido, a humanidade saqueada de seus bens espirituais e de sua liberdade, pelos poderosos do mundo; o sacerdote e o levita, aqueles que não se preocupam com os interesses da coletividade; o samaritano que se aproximou e atou as feridas, é Jesus. O azeite, o símbolo da fé, e, o vinho, é o espírito da sua Palavra; os dois dinheiros, são a caridade e a sabedoria.
Muitos cresceram ao praticar o bem, com o uso do livre-arbítrio; outros, ainda hoje estão lendo as páginas belíssimas em que se afirma que "fora da caridade não há salvação"; e há os que desejam ser os samaritanos de hoje e que sabem também, que o verdadeiro espírita e o verdadeiro cristão, são uma só pessoa.
Explicação complementar para melhor compreensão do tema:
Levita - os levitas se tornaram ministros de Deus. Dentre eles, alguns eram sacerdotes (família de Aarão) e os outros, seus auxiliares. Embora os sacerdotes fossem levitas ("descendente de Levi", que era um dos 12 filhos de Jacó), tornou-se habitual separar os dois grupos. Então, muitas das vezes em que se fala sobre os levitas no Velho Testamento, a referência se aplica aos ajudantes dos sacerdotes. Seu serviço era cuidar do tabernáculo (espécie de tenda ou barraca móvel; a planta dessa espécie de "barraca" montada no deserto foi dada por Deus a Moisés, que comandou a sua construção) e de seus utensílios; inclusive carregando tudo isso durante a viagem pelo deserto.
Samaritano - o povo samaritano não se considera um povo judeu, e sim descendentes dos antigos israelitas que habitaram a histórica província de Samaria. Os Samaritanos eram considerados impuros pelos judeus.
Amor e Sabedoria
O sentimento e a sabedoria são as duas asas com que a alma se elevará para a perfeição infinita. No círculo acanhado do orbe (globo, mundo) terrestre, ambos são classificados como adiantamento moral e adiantamento intelectual, mas, como estamos examinando os valores propriamente do mundo, em particular, devemos reconhecer que ambos são imprescindíveis ao progresso, sendo justo, porém, considerar a superioridade do adiantamento moral sobre o adiantamento intelectual, porquanto a parte intelectual sem a moral pode oferecer numerosas perspectivas de queda, na repetição das experiências, enquanto que o avanço moral jamais será excessivo, representando o núcleo mais importante das energias evolutivas".(Emmanuel)
Emmanuel retomou o assunto para lembrar que o túmulo é uma porta à renovação, assim como o berço é acesso à experiência, e que nosso estágio na Terra é uma viagem com destino às estações do progresso maior. E advertiu: "sem noção de responsabilidade, sem devoção à prática do bem, sem amor ao estudo e sem esforço perseverante em nosso próprio burilamento moral, é impraticável a peregrinação libertadora para os Cimos da Vida".
Eis providências que não poderiam faltar nas metas que traçamos relativamente à nossa própria existência, nem deveriam ser ignoradas pelos pais no que se refere ao processo educacional de seus filhos.