Como parte da chamada geração "Baby Boomers" (nascida em 1956), educadora e mãe de três filhos, observo preocupada a educação dada pelos pais nos dias de hoje. Com o passar dos anos e décadas, as novas gerações chamadas de "X"; "Y" ; "Z" , revelaram características inerentes aos contextos familiares e sociais marcados pelos avanços tecnológicos e uma nova concepção de "educar", notadamente, às voltas com tantas informações sem que tivesse havido um tempo hábil de assimilá-las a contento para um equilíbrio baseado em valores axiológicos (predominantemente morais). Comumente tida como "crise de valores".
O que se observa é que os pais, que também adotaram e incorporaram comportamentos de extrema dependência dos meios informáticos e que, cada vez, mais cedo colocam um celular nas mãos de bebês para "entretê-los", se mostram inseguros, incapazes de atender desde às mais simples reações infantis, de conviver com seus filhos naturalmente, de deixar fluir aquilo que é espontâneo do "ser criança". Essa insegurança gera conflitos de culpa e, como consequência procedimentos "atulhados" em excessos. Por isso, hoje, ouvimos falar da "síndrome do Parque de Diversões" que torna a criança insatisfeita com tudo.
A "Síndrome do Brinquedo" é comum vermos os pais no final da festa de aniversário (essas, totalmente impessoais, onde vemos as crianças a correrem de um brinquedo ao outro nos "buffets", acelerados e "perdidos" com tantas "ofertas" de distração, muitas vezes, depois nem lembrando mais de quem foi o aniversariante, vivem com a agenda cheia) levando para casa "sacos" cheios de brinquedos, muitos dos quais a criança apenas pega nas mãos uma única vez na hora de tirar do saco. A referência afetiva de quem deu o presente, muitas vezes, também, passa ao largo.
Neste artigo, o estudo revela que, contrariamente, ao expectável, o excesso de informação não leva a benefícios na aprendizagem.
"A concentração é uma habilidade. Como toda habilidade tem que ser treinada para ser bem usada.
A mente que consegue se concentrar tem como característica desprezar outras variáveis que podem interferir. Uma pessoa concentrada estuda e não se distrai com o barulho de um jogo. Basicamente, o treino da concentração é este: manter o foco e desprezar o que desvia a pessoa do objetivo.
Durante milhares de anos o ser humano teve um aliado neste processo: a privação. Uma criança que só tinha um carrinho para brincar tinha que, forçosamente, se concentrar em brincar com aquele carrinho. Ele era obrigado a fazer algo muito especial: criar vínculo com o brinquedo. Existia um vínculo forte entre a criança e seu brinquedo, que o acompanhava por anos. Aqui aprendemos outra característica da concentração: vínculo. O vínculo é o que dá duração e intensidade a uma relação criança/brinquedo. Esta duração e intensidade é o que permite o aprofundamento do conhecimento e da realização.
Explico: para brincar com o carrinho, a criança tinha que simular uma garagem, por exemplo. Desta forma as brincadeiras incentivavam a criatividade, a resolubilidade, a espontaneidade, a realização de projetos.
A contensão é que criava um mundo mais tranquilo, portanto mais propício ao vínculo e à criatividade. O excesso causa desprezo pelas coisas. E o pior: CAUSA DESPREZO POR AQUILO QUE SENTIMOS pelas coisas", ao que leva, muito rapidamente, ao sentimento de insatisfação. As crianças, hoje, passam uma grande parte de seu tempo insatisfeitas.
Então, o que fazem os pais?! Qual é a atitude que tomam?
Assistimos a uma conduta "culturalmente" instituída por uma parte da sociedade, aqueles que possuem condições financeiras, recorrendo a uma rotina de atividades dita de "quanto mais, melhor". Assim se segue:
"Levamos nossos filhos de carro para aulas de xadrez, robótica, balé, violoncelo ou natação, treinos de beisebol e festinhas de aniversário. Nossos filhos comandam nossas vidas, como se fossem diretores de circo alucinados, mas nós insistimos em dizer que essas atividades os enriquecem cultural, social e intelectualmente, fortalecendo sua competitividade e criatividade.
Quando éramos os últimos escolhidos para o time de queimada, não podíamos chorar. Nos mandavam ser durões e não ser bebês. Mimos e consolos? Não existiam.
Prêmios eram dados à única criança das 256 que de fato vencia a corrida, para aquela que tirava a nota mais alta de todas no exame ou que tivesse vendido o maior número de cookies das Escoteiras em todo o Estado. Todos os outros perdíamos. Éramos perdedores. E isso não nos abalava.
Hoje, medalhas, troféus, fitas e certificados dourados em homenagem ao "melhor reserva" ou "criador do melhor lanche" cobrem as paredes dos quartos de nossos filhos, enchendo-os de louvores pelo simples fato de terem feito um esforço ou comparecido a uma aula, jogo ou evento.
Ultimamente, tenho ouvido pais cheios de "orgulho" dizerem que seus filhos têm "alto domínio da tecnologia", já "nascem" sabendo deslizar o dedinho na tela e que, passam uma grande parte do seu tempo navegando na internet. Esse tempo em excesso incorre, sem que muitos pais se apercebam no total alheamento da realidade - vivem no domínio da realidade virtual - do afastamento afetivo pais/filhos (cada um ligado no seu mundo virtual). Induz, ao "isolamento" de pessoas que coabitam numa mesma casa: mãe/pai; pais/filho; filho/filho. Vivem em "mundos" diferentes. O tempo para as conversas em família, para as confidências, para as trocas interpessoais, pouco restou!
No dizer apropriado neste artigo lemos,"nossos pequeninos “z”s são uma geração que nasceu sob o advento da internet e do boom tecnológico e para eles os gadgets eletrônicos são maravilhas da pós-modernidade que parecem ter estado com eles “dentro da barriga da mãe” – eles parecem ser “chipados” - não estranham nenhuma novidade tecnológica. Rotineiramente "maquinados" de smartphones que mais parecem centrais de computação e entretenimento; Videogames super modernos com realidade virtual a flor da pele e computadores cada vez mais velozes convivendo sem estranhamento a avanços tecnológicos inimagináveis há uma década. A rotina da Geração Z tende ao egocentrismo, a preocupação somente consigo mesmo, na maioria das vezes. Esse caráter de “alienação” pode ser atribuído, sim, a incursão demasiada ao mundo eletrônico, de forma tão arraigada as suas rotinas, mas esse é infelizmente um custo da modernidade. Para eles é impossível imaginar um mundo sem internet, telefones celulares, computadores, iPods, videogames, televisores e vídeos em alta definição. Quanto mais novidade tecnológica melhor.
Se a vida no virtual é fácil e bem desenvolvida, muitas vezes a vida no real é prejudicada pelo não desenvolvimento de habilidades em relacionamentos interpessoais. Vive-se virtualmente tudo, perfis na internet (fakes ou não), curtições no facebook, conceitos e ações permitidos online, que são proibitivos na vida real".
Não admira que, a Geração, seja ela o nome que derem, "Z";"W"; "Alfa" estejam a "tiranizar" os pais.
"As crianças tiranas deixam qualquer um de cabelos em pé. Elas afetam o relacionamento dos pais e têm dificuldade de conviver socialmente. O pediatra e professor da UNESP salienta: “essa reação ocorre, primeiro, porque a criança não tem, ainda, mecanismo interno para lidar com frustrações e irrita-se, chora, grita, sempre que as coisas não saem como e na hora que quer; segundo, por não ter noções de valores, propriedades, espaços e direitos alheios: acha que o mundo todo lhe pertence, está à sua disposição e quer tudo que está a sua volta. Esse comportamento egoísta e tirano que ocorre desde o nascimento, deve ser gradativamente perdido através do processo de educação desenvolvido pelos pais.”
Em muitos casos, os pais têm dificuldade para ajudar seu filho nesse processo de compreensão e amadurecimento emocional. Ele vai crescendo e continua se comportando como se tudo girasse em torno dele. É muito mais fácil para os pais identificar a tirania nos filhos dos outros do que no seu próprio filho. É complicado aceitar que se está sob a mira de uma criança assim. Afinal, “é sangue do meu sangue, aquele que vai dar continuidade à família. Ele precisa saber se defender!”, consolam-se.
Ouve-se, comumente desses pais, um discurso enfático: "ele quer"; "ele gosta"; "ele pediu"... e a total anuência a todos os quereres, sem sequer atentar para o direito do Outro. Há que se satisfazer a qualquer custo todas as vontades.
Em caráter conclusivo refiro Cury: os anos passam e os pais começam a perceber que algo está errado. Seus filhos querem cada vez mais para sentir cada vez menos, são insatisfeitos, indisciplinados, têm dificuldade de expressar gratidão, sua autoestima (maneira como se sentem) está combalida, sua autoimagem (maneira como se veem) está fragilizada, não aceitam 'não', são impacientes, querem tudo na hora.
É fundamental que os pais não deem presentes e roupas (festas,viagens) em excesso aos filhos nem os coloquem em múltiplas atividades (muitas vezes, saltando de atividade em atividade sem se comprometer com nenhuma delas). É igualmente fundamental que conquistem o território da emoção deles e saibam transferir o capital das suas experiências, ou seja, que lhes deem o que o dinheiro não pode comprar.
Pais que superprotegem seus filhos e lhes dão tudo o que pedem colocam combustível na SPA (Síndrome Pensamento Acelerado) destes. Lembrem-se que bons pais dão presentes e suportes para a sobrevivência dos seus filhos, mas pais brilhantes vão muito além: dão a sua história, transferem o mais excelente capital, o das experiências. Muitos pais perdem seus filhos porque não conseguem fazer da relação uma grande aventura.
Augusto Cury, Ansiedade como enfrentar o mal do século, 2013, Editora Saraiva
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