sexta-feira, 3 de abril de 2020

Era uma vez, talvez tantas... (Michel Robim)

Era uma vez... num lugar, uma província. Nessa província vigorava uma lei extremamente cruel. Determinava que, a cada mês, trinta presos eram executados para servir de exemplo de que as leis deviam ser respeitadas e temidas. A sentença de execução era assinada pelo governador da província, em determinado dia do mês, até o meio-dia. Se a sentença não fosse assinada até o meio-dia, dizia essa mesma lei, os prisioneiros escolhidos deveriam ser perdoados e libertados - o que jamais havia ocorrido. 

Pois então... era este fatídico dia.
O governador dirigia-se ao palácio para, entre outras coisas, assinar a dita sentença. Ia observando, de seu carro, os afazeres e o cotidiano de seus cidadãos, quando sua atenção se volta para dois meninos que brincavam. Um deles corria atrás do outro numa espécie de pega-pega, quando o que ia à frente tropeçou, caiu e deu um grito de dor. O outro imediatamente interrompeu a brincadeira, ajoelhou-se ao lado do amigo e, num gesto de compaixão, o consolou, soprando-lhe o ferimento do joelho e o ajudando a se levantar. Abraçados, dobraram a esquina e desapareceram de vista.

A cena remeteu o governador a lembranças, fazendo-o afundar em reflexões, memórias, etc... Ensimesmado, chegou ao palácio, fechou a porta de seu gabinete, isolou-se e mergulhou sabe-se lá em que recônditos de sua alma, não desejando..."ver ninguém e nem ser de nenhuma forma incomodado". O tempo passou, o meio-dia chegou com suas badaladas, despertando o atônito governador de seu universo reflexivo. Passara do meio-dia e, pela primeira vez na história da província, a sentença não tinha sido assinada. Os prisioneiros estavam livres!

A notícia se espalhou como um raio por toda a província. Uma grande alegria tomou conta de todas os cidadãos, ninguém parecia acreditar no milagre.

Na casa dos dois meninos, a novidade chegou antes mesmo que eles tivessem posto os pés na soleira da porta. A mãe, radiante, recebe os dois à porta, exclamando:

- Sabem o que aconteceu? Os prisioneiros foram libertados da sentença de morte, não é maravilhoso? Agora venham cá, me contem como foi o seu dia, o que vocês fizeram hoje?

- Nada, responderam os meninos, hoje não fizemos nada. Foi um dia ruim, ele caiu, se machucou, a gente nem conseguiu brincar direito... Acho que a gente nem deveria ter saído de casa...

Eis aqui um pequeno conto... e uma pergunta.

Como está sendo o seu dia, o que é que você fez hoje?



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